sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nós dois, simples assim

O chão era grudento, cerveja provavelmente, mas agradeci por aquilo, o sapato de salto já começava a machucar meu pé. Eu estava com calor e eu me sentia ligeiramente zonza, efeito do álcool. A mão dele na minha cintura era o único motivo que eu tinha para não me mexer.

Ele ainda cheirava ao desodorante corporal masculino que tinha passado depois do banho, cabelos curtos, barba rala, camisa, calça, all star. Tinha três pedras de gelo no seu uísque.

Ele me beijou - cerveja, calor, três pedras de gelo e uísque.

Seus amigos viraram os rosto na tentativa, inútil, de nos dar um segundo de privacidade. "Quer ir pra casa?" Perguntou. Fiz que não com a cabeça. Ele sorriu.

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Seu carro tinha cheiro de Mcdonalds, milhares de pilhas de lixo ocupavam os bancos traseiros. "Eu vou levar no lava-rápido". Já ouvi isso mil vezes.

- Vamos para onde? - Eu não havia comido nada naquele bar apinhado de gente.

- Eu 'to com fome e com sono - Tirei o sapato, sentir meus pés livres me deu uma enorme sensação de prazer. Coloquei um chinelo. A saia que eu usava era justa, curta e desconfortável, mas bonita. Aproveitei pra tirar a meia-calça que incomodava a minha pele. Sinal vermelho. "Você está me provocando de propósito" Sorri. Demorando mais do que preciso, tirei a meia.

- Você é mesmo uma diabinha - Pequenas linhas de energia elétrica correram sobre meu corpo quando sua mão deslizou sobre minha coxa. Sinal verde.

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A luz do sol e seu calor invadiam o quarto. Não me lembrava de como tinha chegado até o quarto ou como tinha trocado de roupa, mas estava feito. Aquele quarto já era muito conhecido por mim, a cama sempre bagunçada, o guarda roupa espelhado, o armário cheio de livros e o criado mudo sempre cheio de bagunças.

Ele estava deitado do meu lado. Às vezes eu me perguntava se era certo estar ali, e estar com ele. Provavelmente não. Um relacionamento tão fadado a dar errado, vivido sobre mentiras e mais mentiras, e nós dois - tão ridiculamente paradoxos – não fazia sentido estarmos juntos, mas naquele momento, com ele deitado ao meu lado - o sol batendo em suas costas nuas, seu semblante calmo e seu braço ao meu redor – eu deixava de me importar com tudo e até chegava a acreditar que "aquilo" poderia dar certo.
Thays Rufin

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